A vida moderna ainda não acabou com uma velha mania dos conquistadores, que é dissimular sempre. Todo espécime humano imbuído no desejo de atrair outra pessoa nunca revela sua intenção em palavras, por mais ilógica que possa parecer a tática. É como terminar um namoro alegando que a culpa é sua e não de quem leva o fora: não faz o menor sentido, mas quase sempre funciona.
Ser bem-sucedido na arte de faturar o semelhante exige talento metafórico de poeta parnasiano. Tentar colocar os pingos nos "is", além do fracasso certo, pode levar uma simples cantada à violência ou arrastá-la às raias do absurdo. No campo do sexo, o segredo do negócio sempre foi dissimular. Quando alguém te trata mal de graça, tem três chances em cinco de existir intenções sexuais por trás da grosseria. Agora, se o destrato for uma indiferença exagerada à sua presença luminosa, fique certo (a): ele (a) quer trepar contigo.
As artimanhas de desvalorizar para conquistar nunca devem ser confundidas com honestidade, porque ainda há quem insista em ser sincero no dia-a-dia. Nunca cometa o erro de confundir frases ingênuas com as libidinosas. Dizer que seu corpo é o máximo, o bumbum redondo, que com esse preparo físico você deve estar arrasando na cama ou que sua mala está gritando no jeans, nem sempre escondem segundas intenções, pois são demasiado diretas. Já pedir fogo pro cigarro, elogiar o sorriso ou perguntar se você se chama Eduardo, essas sim, são frases lascivas, perigosas.
Há controvérsias na origem do costume de dissimular. Talvez ele tenha nascido da inclinação humana para desdenhar do que já possui. Ou seja, não deixa nada muito claro porque as pessoas só desejam o que não têm. O que leva todo mundo a fingir não querer o que realmente quer para assim poder ter. Como o antigo hábito dos camponeses chineses de se lamentar em voz alta para que os maus espíritos não lhe invejem a boa sorte...
"Meu namorado é um lixo!"
"Não seja injusto, ele é até bem bonitinho..."
"Que nada, tem péssimo humor e, na cama, não dá nem pra saída."
"Não diga!"
"Juro"
"Sabe que não parece?"
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