quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Espelho, espelho meu...



É consenso geral entre a maioria dos meus amigos: há dias em que você acorda, se olha no espelho e se sente a pessoa mais linda desse mundo, tão radiante que parece que todos à sua volta param e se viram à sua passagem e “nossa, se eu não fosse eu, eu me comia!”. Em outros, você nem precisa ver sua imagem refletida pra se sentir a mosca do cocô do cavalo do bandido. Quando se olha então, meu Deus! Que olheira horrível, que cabelo desgrenhado, que cara de bunda! Tudo bem, por mais que a olheira esteja mais saliente, o cabelo um pouco mais rebelde, o fato é que todos os dias acordamos com a mesma cara. É o que vai por dentro que determina a auto-avaliação que fazemos de nossa imagem.

Dias desses eu estava assim, me sentindo transparente, achando que as pessoas ao meu redor simplesmente não me notavam. Ora, aos 35 anos, estou cansado de saber que não sou nenhum monumento à beleza masculina. Mas também, sem falsa modéstia, estou longe de ser um cara feio. Não sou perfeitamente simétrico, como a grande maioria dos pobres mortais, mas há tempos aprendi a conviver com as minhas imperfeições. Sou muito bem resolvido com meu nariz grande, pois além de achar os homens com nariz grande irresistíveis, essa é uma característica que denota minha ascendência italiana, é um pouco de quem eu sou, das minhas origens. Não gosto do formato do meu rosto. Acho simplesmente lindo e másculo um homem com rosto quadrado, desses com os ossos da face bem salientes. Mas no geral, não me queixo quando olho no espelho, porque vejo que o tempo só tem me sido benéfico. Do corpo, então, nem falo nada. Quem é que está cem por cento satisfeito com sua forma física? Até mesmo a barbie mais sarada, quase beirando a perfeição de um Adônis, sempre acha que pode melhorar.

Sendo assim, o que me levou a me sentir tão invisível aos outros? Por mais que eu tenha analisado, não cheguei a uma conclusão. Talvez estivesse me sentindo meio carente. Ou talvez o fato de ter ido pra balada com dois amigos muito bonitos e perceber os olhares de todos convergindo para os dois, ficando relegado ao posto do “amiguinho feinho”. E essas encanações foram me tomando de uma forma que, em vez de eu ir à luta para provar que não era nada daquilo, fiquei acabrunhado em um canto, me lamentando pelo fato de a natureza não ter sido um pouco mais generosa comigo.

Bobagem! Passado o bode e pensando friamente, se eu pudesse sairia do meu corpo e me daria umas porradas! Assim como quando nos falta um sentido e desenvolvemos melhor um outro para suprir essa falta, há tempos aprendi a usar os recursos que tenho a minha disposição: um olhar mais provocante, um sorriso mais insolente, um gesto mais audacioso. E o mais importante: mostrar que sou alguém que pensa, que tem convicções e atitudes, o que já é bem difícil de se encontrar hoje em dia.

Sei que haverá outras ocasiões em que me sentirei assim novamente. A insatisfação é inerente ao ser humano, mas também é a mola-mestra que nos faz sempre questionar, ponderar e nos auto-conhecer cada vez mais. E, graças a Deus, a vida é cíclica. E o amanhã, quem sabe o que nos reserva?

6 comentários:

Anônimo disse...

É isso aí, os estereótipos de beleza não estão com nada. Também adoro um nariz grande (o meu também é) e quase todo traço que dê personalidade a uma pessoa. Pra mim, beleza está na originalidade.
Agora você, seu Fernando, nem me venha com posts do tamanho de um episódio da nona temporada de Melrose Place, rsrs...

Anônimo disse...

Gostei do que disse... Foi muito feliz ao postar esse texto. Adorei!!!

Anônimo disse...

Fê, seus textos são primorosos.

Estou em SJosé.
Um beijo,

Angela

Anônimo disse...

Vc me inspirou!

Vc é bunito de doer!

Anônimo disse...

que lindo!! adorei!! fiquei emocionado, eheheheh...de verdade...talvez pq isso seja uma super questão pra mim tb...enfim, é por isso que vc é meu mestre! Ainda quero ser o Fê quando crescer!

All hail the master!

Anônimo disse...

Por que nao:)