Não acontece apenas com o vizinho

Todos os dias vemos notícias na tevê, na internet, nos jornais, sobre os subterfúgios mais vis que o crime organizado utiliza para extorquir dinheiro dos cidadãos de bem, afim de manter suas engrenagens imundas funcionando. Mas a coisa adquire uma nuance extremamente sombria quando acontece com a gente, ou com alguém próximo. Na última sexta-feira, minha mãe foi vítima do golpe do falso seqüestro. Resumindo a história, pouco antes do almoço ela atendeu a um telefonema, no qual uma voz feminina a chamava de mãe e dizia que havia sido assaltada. Como a voz parecia com a de minha irmã do meio, que naquele horário estaria em trânsito entre a escola em que dá aula no período da manhã e minha casa, onde vai almoçar todos dias, minha mãe supôs que fosse ela. Nervosa, ela quis confirmar e perguntou qual das filhas falava, dizendo os nomes. Era tudo o que os bandidos precisavam. A confirmação de que ela realmente tinha filhas e os nomes delas. Por azar, chutaram o nome justamente da qual minha mãe achou que fosse, afirmando que a haviam sequëstrado por engano, no lugar da filha de um empresário. Pediram 50 mil reais para libertá-la, quantia que baixou para 500 reais, mas que acabou reduzida à compra de um cartão de celular da TIM. Disseram a ela que tinha 20 minutos para comprar o tal cartão, ou então minha irmã sofreria as conseqüências. Nervosa, ela bateu à porta da vizinha e contou o que havia ocorrido. Foi a vizinha que a alertou que poderia ser um golpe, que tinha ouvido muitas notícias a respeito. Pediu a minha mãe o número do celular de minha irmã e ligou para ela, que atendeu prontamente, confirmando que estava no trânsito, quase chegando em casa. Como temos identificador de chamadas, minha mãe fez a única coisa que estava ao seu alcance: ligou para a polícia, relatou o ocorrido e passou o número do telefone que havia ligado.

Graças a Deus foi só um susto, mas no noticiário local da noite, ouvi que uma outra senhora havia sido vítima do golpe na cidade, naquele dia. Mas, infelizmente, esta senhora, que era cardíaca, teve um infarto e veio a falecer. Fiquei revoltadíssimo quando cheguei do trabalho e minha mãe relatou o pânico que passara durante os cerca de 20 minutos que duraram o telefonema. Mas fiquei pensando nesta família que perdeu uma pessoa amada, por conta da falta de escrúpulos e da falta de respeito ao ser humano. E fiquei com muito medo, por mim e por todas as pessoas que eu amo, ao me dar conta que, para essas pessoas, a vida não vale mais que um crédito de celular.